29 abril 2007

A riot of my own... 30 years now


Em Abril de 1977 deu-se o grande salto em frente no punk britânico – que é como quem diz, europeu. É verdade que Never mind the bollocks, here’s the Sex Pistols, editado alguns meses depois, seria o manifesto final e definitivo da classe de 77, contribuindo para a causa com Anarchy in the UK, o hino desta geração (que por acaso até já tinha saído em single em finais de 76). Mas isso não altera o facto de os Clash terem sido a melhor e mais inovadora banda punk inglesa. Se não lhe quiserem chamar facto, chamem-lhe "opinião subjectiva fortemente fundamentada”. Pouco interessa.
The Clash, o álbum, foi gravado numa pressinha, ao longo de 3 ou 4 fins de semana. Como acontece com quase todos os discos que atingem um estatuto mítico, circulam inúmeras histórias sobre a sua gravação, como a que diz que quando a banda apareceu no estúdio com as roupas meticulosamente rasgadas e pintadas (sim, eles eram cool e ligavam muito às aparências) foram tomados por trolhas e enviados para uma sala que estava em obras. Ou a que conta que ao ver a Fender de Joe Strummer colada em várias partes com fita adesiva, um executivo se apressou a mandar vir uma guitarra novinha em folha, que o mesmo Strummer destruiu de imediato.
Mick Jones terá dito, a propósito das gravações, qualquer coisa como "I was so into speed I don't even recall making that album". Verdade ou exagero, o facto é que o sentido de urgência deste disco, de se ter algo a dizer muito alto e muito depressa, só podiam encontrar um paralelo razoável numa banda nova-iorquina, também com um conceito particular do cool, que também dizia rapidamente (por vezes demasiado rapidamente) o que tinha a dizer: os Ramones, claro. Mas ao contrário destes (e do punk nova-iorquino em geral, uma onda mais trendy e intelectualóide que se movia por galerias de arte e privava com poetas beat), os Clash (e o punk britânico em geral, vindo da rua, das filas do dole, dos bairros sociais e do fim dos restos de um império que percebia que tinha deixado de o ser) incluíram desde o início temas políticos (entendendo-se aqui expressão no sentido mais amplo) na sua agenda. O confronto (“clash”, em inglês) com a autoridade é o fio condutor destas canções, seja ela a polícia, os políticos incapazes de motivar as novas gerações, o papão americano ou os executivos das editoras. O importante era erguer o dedo médio a quem se atravessasse no caminho da revolução. Não é fácil fazer uma apreciação individual às 14 ou 15 canções deste disco. Por um lado, a sua qualidade não é um modelo de consistência, havendo alguns temas a roçar o banal no meio de verdadeiros e genuínos clássicos como (para citar temas não citados a outro propósito) White Riot, Janie Jones (de que os Babyshambles fizeram uma bela versão), Carreer opportunities ou What´s my name. Por outro lado, a edição americana retirou 4 temas da edição inglesa (mantendo, com uma admirável fleuma, a incendiária I’m so bored with the USA) e acrescentou 5 faixas entretanto editadas em EP's. Curiosamente, não estava prevista uma edição do disco nos USA, prevendo-se que a importação de cópias seria suficiente para satisfazer as encomendas; só quando as importações atingiram os 100.000 exemplares é que os executivos da CBS mudaram de ideias. É esta, aliás, a edição que eu tenho, e que normalmente se encontra por cá. E embora seja uma adulteração da edição original (sendo que, de qualquer forma, o punk sempre viveu mais de singles do que de álbuns) a qualidade das canções está longe de ficar a perder. Basta dizer que dessas cinco “novas” canções, três são a fantástica versão para I fought the law, outrora celebrizada pelo malogrado Bobby Fuller (canção que assentava que nem uma luva à imagem de cowboys justiceiros que os Clash queriam assumir, quais Jesse James em cruzada contra o imperialismo capitalista), a brutal Complete Control (manifesto contra as pretensões ditatoriais da editora, que supostamente concedia à banda total liberdade artística, mas que depois decidia quais os temas a editar, a incluir e a excluir) e (White man in) Hammersmith Palais, um dos temas mais carismáticos do reggae branco de que os Clash foram precursores. Aliás, já na versão inglesa do disco vinha incluída uma versão magnífica de Police and thieves, de Junior Murvin. Não nos esqueçamos que Londres – e em particular a zona de Notting Hill e Portobello, onde os membros da banda residiam – tem uma numerosa população caribenha, razão pela qual o punk e a new wave ingleses (contrariamente ao norte-americano) sempre andaram de mãos dadas com o reggae e o ska. Que o digam os Specials, os Madness, Joe Jackson, Elvis Costello, os Pretenders, os Bad Manners, os Police & etc, etc, etc....
E já chega de treta. Querem saber mais sobre este disco, ouçam-no. É fácil, é barato e dá um gozo do caraças. Ou então dêem uma espreitadela nos clips das canções que estão linkadas. É que já não se faz disto como antigamente.

2 comentários:

joao disse...

bom texto

Shumway disse...

Para mim, ainda é o maior manifesto punk.
Abraço