08 janeiro 2007

Just a mortal with potential of a Superman

É lixado. Por muito que tente, e depois de vinte e tal anos às voltas com os dicos do homem, não consigo dizer que haja uma música preferida do meu cantor/compositor/artista preferido. Dos Velvet sou capaz de dizer que é o What goes on, como dos Joy Division é o New dawn fades. Dos Clash o Guns of Brixton, e dos Pixies o Gigantic, dos Sonic Youth o Mote, dos Pavement o We dance ou dos Stone Roses o Made of Stone. Do Bowie não consigo. Há muitas.
Em tempos foi o Rock'n roll suicide, noutros o Starman, noutros o Heroes, noutros o Life on Mars. E há mais candidatas: Space Oddity? Cygnet Committee? Quicksand? Queenbitch? Five Years? Lady Stardust? Time? Rebel Rebel? Young americans? Scary monsters? Sons of the silent age? Beauty and the beast? Look back in anger? Always crashing in the same car?
Por uma questão de saturação, já não consigo sentir o mesmo que há 20 anos quando ouço coisas como o Heroes. Por muito boas que sejam, um gajo cansa-se. Daí que não esteja nenhum greatest hit na minha lista de 6 favoritas - escolher seis foi o melhor que consegui. Por razões mais ou menos subjectivas, as que mais me fazem cantar, dançar, rir ou chorar são, por ordem cronológica (e com link para os clips, quando disponíveis):
Bewlay Brothers (Hunky Dory, 1971). Ninguém percebe exactamente de que é que ele fala, mas pouco interessa. De memórias de infância, do seu irmão Terry, da cumplicidade entre crianças e amigos, de fisgas e de piratas. Sempre que a ouço tenho saudades da casa da minha avó em Entre-os-Rios, onde passei muitos fins de semana e férias até aos meus 10 anos. De andar pelo monte e de esfolar os joelhos. I might just slip away.
Moonage Daydream (Ziggy Stardust, 1972). Talvez uma escolha bizarra para um top 6, mas é uma das poucas canções que ouço desde os 14 anos exactamente com o mesmo gozo. A quintessência do glam-rock, muitas vezes citada mas nunca igualada. Don't fake it, babe, lay the real thing on me!
Sweet Thing + Candidate + Sweet Thing (reprise) (Diamond Dogs, 1974). Tecnicamente 3 canções mas de facto uma só. Uma história de amor assombrado e impossível, de dependência extrema (guess why...), com o homem a cantar como nunca mais cantou. Por muitas drogas que andasse a tomar, parece gravado por um extraterrestre. Arrepia. Demais, demais, demais!
(Trivia: foi daqui a primeira "quote of the day" da C-70.)
Station to station (Station to station, 1976). Se não me engano, a canção mais longa da longa carreira do senhor, e mais uma com um significado obscuro. Começa com uma locomotiva a arrancar, reminiscência dos tempos em que por uma paranóia induzida por um sonho o homem se recusava a andar de avião. Tem lá dentro 3 canções diferentes, à la Bohemian Rhapsody, e um dos versos mais geniais do rock'n roll: it's not the side effects of the cocaine, I'm thinking that it must be love. Woooooooaaaah!
Be my wife (Low, 1977). Já disse aqui o que penso desta canção. Mais para quê?
Teenage wildlife (Scary Monsters, 1980). Quando criei este blogue estive para lhe chamar "(I'm not a piece of) teenage wildlife", mas depois achei demasiado comprido. Seja como for, esta é em absoluto uma das minhas canções preferidas , um épico em cinemascope sobre a fama e a fortuna, que deve muito à guitarra milagrosa de Robert Fripp.
Encerram-se oficialmente as comemorações do 8 de Janeiro com o vídeo de um dos momentos mais peculiares da história do rock: a 3 de Julho de 1973, no final do último concerto da digressão e sem avisar o resto da banda, anuncia em directo que Ziggy Stardust morreu: "that's the last show that we'll ever do". A seguir tocou Rock'n roll suicide. Como se diz no final do The Maltese Falcon (frase que os Human League viriam a copiar algumas décadas depois), "that's the stuff that dreams are made of".
E mais não digo. Parabéns, que sejam muitos e bons. Ele merece.

1 comentário:

Randomsailor disse...

Pois é, o Bowie arrebata! Gostei das 6 escolhas, talvez destas a minha preferida seja Sweet Thing/Candidate/Sweet Thing. Passado 7 anos, quando a oiço ainda me arrepio com "Then jump in the river holding hands". Mas como tu dizes, há muitas mais. Existem álbuns inteiros de boas canções, onde não me canso de procurar algo de novo nelas.

Fica bem!

Abraço