26 novembro 2006

Not the end?

Não sei se é o fim de tudo ou não. Acredito que tudo o que deixamos é a obra que fizemos em vida e a memória que fica a quem sobrevive. As únicas certezas que tenho de cada vez que me confronto com a morte é de que a nossa passagem por cá é demasiado rápida e misteriosa para ser desperdiçada com merdas, e de que é um imperativo moral vivê-la como melhor nos apetecer; e a de que temos que aproveitar enquanto os outros cá estão, porque depois é demasiado tarde para lhes contar as novidades, dar um abraço ou dizer adeus.
Pena que normalmente nos lembremos disso tarde demais.


25 novembro 2006

Quote of the day - Joy Division / The Eternal

Played by the gate at the foot of the garden,
my view stretches out from the fence to the wall
No words could explain, no actions determine
just watching the trees and the leaves as they fall.

Agora é como na história do telefone: eu estou cá, e tu estás lá.

Adeus, tio.

17 novembro 2006

C70 @ Radio

Jovem,

tens saudades da Mel&Kim e das Spice Girls, dos Duran Duran e dos Human League, do Iggy e do Ziggy? Apetecia-te ouvir a versão que os Babyshambles fizeram para o Janie Jones dos Clash? Gostas da M.I.A e da Lilly Allen mas tens vergonha de contar aos teus amigos rockeiros? Não passas bem sem Primal Scream, New Order, Suede e Pulp? Achas piada aos Turbonegro e aos Wolfmother, mas tens medo que os espertalhões com bom gosto te chamem azeiteiro? Não te preocupes, conheço a hora e o local certos para ti:

Quote of the day - Pavement / Give it a day

So the word spread
Just like small pox in the Sudan
The gentry cried: "Give it a day!"



Parece que o Filipe está com varicela.
O que significa, entre muitas outras coisas, que o pai do Filipe se arrisca a ficar com varicela.

(esta imagem, de resto bem foleira, é a única que arranjei em toda a net da capa de um CD que por acaso até tenho ali na estante, e vem da fonoteca da CM de Lisboa. curioso...)

13 novembro 2006

Regresso ao tacho do Mestre Joe

Super retro-mix de costeletas com molho de pimentos
Ingredientes:
2 costeletas
1,5 pimento grande
1 cebola
3 dentes de alho
Óleo
1,5 dl de água
Pimentão doce, pimentão picante e sal a gosto
Pão ou tostas
Um bom naco de Brie
Whisky
Gelo a gosto
Dois Cd's compilados por Mestre Joe
A pedido de várias famílias, eis que o Mestre Joe volta a abrir o seu livro e a brindar as melhores donas de casa com mais uma apetitosa receita.
Como todos sabemos, a primeira coisa a fazer quando se começa a cozinhar é escolher um som. Hoje resolvemos começar com Mirror Man, uma canção algo esquecida dos Human League com um cheirinho a Motown. Nada melhor para acompanhar do que uma tostinha barrada com Brie - procedimento que deve repetir-se com generosidade ao longo da confecção do jantar. De seguida, e enquanto o leitor de CD se encarrega de passar para os Style Council e Walls come tumblin' down (uma das duas ou três boas músicas de jeito que o Sr. Weller nos deixou), deve colocar-se cuidadosamente gelo num copo e regá-lo com Whisky. E estamos prontos para colocar o óleo no Wok e fritar as costeletas enquanto acompanhamos o Yeke Yeke de Mori Kante com danças tribais. Segue-se C30! C60! C90! Go! dos nossos bem conhecidos Bow Wow Wow (canção que por um triz não é o hino da C70), ideal para picar a cebola e os dentes de alho. E quando o leitor começar a debitar os "Chaka Khan" semi-gagos que abrem a alegre I feel for You, é sinal que as costeletas podem ser postas de lado e tapadas com papel de alumínio. É nessa altura que, acompanhados do French Kissin' da bela Debbie Harry, deitamos no Wok a cebola e os dentes de alho previamente picados, dedicando-nos então a cortar em fatias o pimento e meio. E pergunto eu: qual a melhor cançao queconhecem para acompanhar esse momento de grande concentraçao? Adivinharam - o Japanese boy de Aneka, a escocesa esquecida. A missão deverá estar cumprida antes de poderem dizer "Yazz", porque nessa altura já estarão a levantar os braços enquanto trauteiam The only way is up. Cortados os pimentos, é altura de verter mais ou menos 2/3 dos ditos no Wok de serviço, acrescentando a água e os temperos. Para mexer, a canção que se afigura mais adequada é (obviamente!) Wishing, da banda com os piores penteados dos anos 80 (título deveras disputado com os Alphaville e os A-ha) - nada menos que os inesquecíveis (nomeadamente pelos seus pais e filhos) A flock of seagulls.
E aqui há um pequeno momento mágico. Sinto sempre um pequeno baque quando o grande Billy Ocean entra em cena contando-nos a história da sua Caribbean Queen. Kanye, filho, querias ter esta pinta, mas ainda tens que comer muita sopinha de cavalo cansado.
Refeito da emoção, o cozinheiro nãop tem alternativa senão reencher o seu copo com mais chá de malte. E tem que ter cuidado para que o azeite que escorre das colunas não estrague a comida. É que quem canta agora é o inefável David Lee Roth, vocalista dos Van Halen, que grita Jump! Obedientes que somos, saltamos. Por esta altura, já a água ferve, e com ela os pimentos, a cabola e o resto. É deixá-la ferver, porque há coisas mais importantes a fazer; por exemplo, gritar papa-ooma-mow-mow enquanto toca o Surfin Bird, cortesia dos Trashmen. É logo a seguir entra o chefe, o rei, o maior. Entra e ordena, imperial: Let's dance! Quem somos nós para o contrariar? Bailemos, pois. E com garbo.
Ora já começam a ser horas de ir para a mesa, de modos que convém deixarmo-nos de tangas e acabar o jantar. O problema é que precisamente aqui aparece o trio diabólico. Os Beastie Boys, malcriadões, aparecem sem serem convidados e desatam a gritar No sleep till Brooklin, e o cozinheiro grita com eles enquanto, ajudado pela varinha mágica, transforma furiosamente em puré tudo o que estava no Wok. A situação nao melhora nada quando se começa a ouvir Rock Lobster, uma das canções mais disparatadas e contagiantes de sempre. Assim não há condições para trabalhar, porra! Vá lá que já está quase tudo feito, e a coisa entra num registo mais laidback com Ronnie Cook e a versão original do Goo Goo Muck. Por esta altura já se acrescentou ao puré meio pacote de natas, e se pôs lá dentro o resto dos pimentos e as costeletas. Vai tudo ao lume. E fica tão bonito e com tão bom aspecto que só apetece olharmos, embevecidos, para o resultado final. A coisa é de tal forma que até os Manic Street Preachers resolvem cantar um belo Can't take my eyes off you. Bute para a mesa, que está tudo com fome.
Acompanha com arroz branco, cerveja e Whiskey - sendo Whiskey, neste contexto, o 1º álbum do Jay-Jay Johanson, e não aquela bebida em que estavam a pensar.


Para a sobremesa os Chicos Bestiales. Enorme malha, grande clip.


Bon appétit!

12 novembro 2006

Quote of the day - Suede / So young

Because we're young, because we're gone,
We'll take the tides electric mind, oh yeah?





A 1ª canção do 1º álbum de uma das melhores bandas britânicas dos 90's . Pode ser exagero de fã, mas 13 anos depois continuo a achar que o britpop nunca conseguiu melhorar aquele que foi talvez o seu primeiro momento.
...even if we're not SO young anymore.

09 novembro 2006

A pergunta que anda no ar

"Quem é aquele gajo feio como o caraças e já um bocado entradote que vai pôr música no Rádio no dia a seguir à jovem e bem-parecida C-70??? "



Não, não é este. Mas que dá uns ares, lá isso dá.

07 novembro 2006

Grinderquê????

E esta, hein?...

Ó faxavor de conferir aqui o que o nosso querido Nick the Stripper tem andado a fazer. Pela amostra dá a ideia que regressamos a terrenos próximos do First born is dead, o que está longe de ser uma má notícia. Esperemos para ver.

05 novembro 2006

10-canções-10 com nomes de actores

A propósito do belo sunday morning record que nos acompanhou esta manhã ao pequeno almoço, começámos cá por casa a tentar lembrar-nos de canções com nomes de actores e actrizes no título, mesmo abreviados ou codificados (só não valia cantores-actores). Depois de muito puxar pela cabeça chegou-se a uma lista de 10:

10. Postal Service, Clark Gable
09. Cinerama, Lollobrigida
08. Bananarama, Robert de Niro's waiting
07. Kim Carnes, Bette Davis' Eyes
06. Gorillaz, Clint Eastwood
05. Suzanne Vega, Marlene on the wall
04. Sonic Youth, Madonna, Sean and me (aka The cruxifiction of Sean Penn, aka Expressway to Yr skull) *
03. John Cale, The soul of Carmen Miranda
02. Roxy Music, 2HB
01. Bauhaus, Bela Lugosi's dead
Menções honrosas (outras belas canções em que se referem actores):
05: Clash, The right profile ("Everybody says he sure look funny, that's Montgomery Clift, honey!")
04: dEUS, Opening Night ("I feel like Geena might, upon her opening night")
03: Whipping Boy, Personality ("I want to marry a personality, someone who looks just like Koo Stark")
02. Lou Reed, Halloween Parade ("There's a Crawford, Davis and a tacky Cary Grant")
01. Iggy Pop / David Bowie, China girl ("I feel in tragic like I'm Marlon Brando, when I look at my China girl")

Quem se lembra de mais algumas?

* já agora, pergunta-se aos mais dedicados estudiosos da Seita Sónica (que eu sei que há alguns entre os amigos da C-70): como caraças se chama afinal esta música, que na capa do disco tem um nome, no livro outro e aparece sempre referida nas discografias e álbuns ao vivo com outro?

02 novembro 2006

Discos Perdidos 05 / Swell - Too many days without thinking (1997, Beggars Banquet)

Quando saiu, Too many days... foi vilipendiado pelos admiradores mais puristas desta banda de S. Francisco como uma pequena traição ao espírito dos álbuns anteriores, ...Well? e 41. O som demasiado polido, a produção demasiado próxima da do banal indie rock e o facto de terem sido despedidos pela American, a editora do guru Rick Rubin (na altura em pleno milagre da resurreição de Johnny Cash) levaram a que muitos incondicionais torcessem o nariz a este disco, que soava como uma espécie de Nirvana em versão lo-fi meets Red House Paiters. Nada mais injusto: Too many days... é não só o melhor disco que os Sweel nos deixaram, é a lápide definitiva do grunge.
Não quer isto dizer, bem entendido, que os Swell tenham um cabelo que seja a ver com bandas como os Soungarden, os Alice in Chains, e ainda muito menos com dejectos como os STP ou os Pearl Jam. Nada disso. Os Swell vieram precisamente tornar claro que esse tempo tinha terminado e que era preciso voltar a olhar para o rock não enquanto repositório das amarguras juvenis gritadas por rapazes altos e bonitos, embora drogaditos e decadentes (Kurt, Eddie, Chris, Scott...), mas como uma forma de expressão musical e artística em que os sentimentos estão à flor da pele sem terem necessariamente que ser gritados por vozes desesperadas e sublinhados por um excesso de decibéis de guitarras e bateria. O rock podia voltar a ser rock, menos histriónico do que na meia dúzia de anos anteriores e centrando-se mais na escrita de boas canções do que no hiper-rentável circo Lollapalooza em que a música supostamente alternativa se tinha grotescamente transformado.
Too many days... é um disco em que não há uma canção fraca, havendo naturalmente 3 ou 4 que sobressaem: At Lennie's, (I know) the trip, What I always wanted ou a belíssima Sunshine everyday (uma espécie de irmã boa e gentil da Stormy weather dos Pixies) são coisas que ninguém que se preze desdenharia ter escrito, e que os Swell provavelmente nunca igualaram nos álbuns posteriores. Mas, muito mais do que ter boas canções, este é um disco em que as coisas parecem fazer sentido do princípio ao fim, em que uma espécie de fio invisível nos leva de uma ponta à outra sem que nada pareça ou apareça fora do sítio. E é isso que distingue um bom disco de um disco memorável.
Vi os Swell por duas vezes. A primeira foi na digressão deste álbum, algures em 97 e numa das salas onde vi mais e melhores concertos - o Garage, em Londres (qualquer dia hei-de escrever um post sobre este sítio, infelizmente fechado para obras há tempo suficiente para eu suspeitar que teha fechado de vez). A segunda foi em 98 ou 99 no agora também moribundo Hard Club, na digressão de For all the beautiful people. De ambas as vezes não estariam mais do que umas 200 pessoas para ver uma das melhores coisas que o rock tinha para oferecer à data, o que não deixa de ser chocante (sobretudo em Londres, onde devem viver à volta de uns 10 milhões de almas). Não sendo em palco uma banda extraordinária, a impressão que mais me marcou foi a de uns tipos despretensiosos que não se importam de conversar um bocado com os fãs enquanto eles próprios carregam a carrinha para o espectáculo do dia seguinte, e em que um dos membros até deixou o e-mail para mais tarde lhe escrevermos a saber se nos conseguia arranjar umas cópias do 1º disco.
Em 97 estava certo que este álbum seria um grande sucesso comercial, porque tinha tudo para agradar quer aos órfãos do grunge (agora uns anos mais adultos e maduros) quer aos adolescentes à procura de algo de novo no mundo indie. Não foi, talvez por falta de marketing, talvez porque de facto não era disto que o povo estava à espera. Pior do que isso, dei-me conta há bocado, ouvindo-o enquanto arrumava a cozinha, que é hoje um disco infeliz e injustamente esquecido; ele que deveria estar nas prateleiras de toda a gente que em 97 tinha entre os 16 e os 30 anos. Se não o conhecem, descubram-no.

01 novembro 2006

Quote of the day - Mão Morta / 1º de Novembro

Um traço, um berço
Dois destinos que se cruzam na lonjura da distância
Erva fálica pelo caminho
Distúrbios, subúrbios

Automóveis ferrugentos desenhando o horizonte
Os paralelos asfixiam a alma
Solidão, saudade

Romagens, romaria aos queridos defuntos
Carcaças abandonadas ao passado
Lágrimas, fábricas

Tempo invernoso sublinhando a ausência
A música ouve-se triste
Solidão!
Saudade!
Romagens!
Romarias!
Solidão!
Saudade!
Queridos!
Defuntos!



Quantos mais 1os de Novembro passo, mais certeza tenho de que quero ser cremado. Mas calma, ó Grande Arquitecto... não tenho pressa.