Muitos eventos têm perdido, com o passar dos anos, a aura de grande acontecimento social, político ou cultural que tinham quando eu era miúdo, e infelizmente um deles é o Festival da Eurovisão (outro exemplo, em que a desaparição é todavia motivo de gáudio, são os inenarráveis Jogos sem Fronteiras, que me fazem sentir constrangido só de pensar que em tempos passei serões a ver aquilo). Até aos meus 11-12 anos, não perdia a apresentação diária dos 3 ou 4 clips de canções concorrentes, e toda a família seguia invariavelmente do princípio ao fim o espectáculo propriamente dito. Há pormenores que nunca se esquecerão, como saber de antemão que a Grécia e o Chipre se dariam mutuamente 12 pontos, ou a voz de Eládio Clímaco (quem mais poderia ostentar um nome tão improvável?) a anunciar a votação do júri do Luxemburgo.
A Eurovisão proporcionou momentos verdadeiramente atrozes, tanto do ponto de vista musical como do da encenação. Coisas de que as novas gerações provavelmente nem suspeitam. Ficam aqui algumas, para vosso deleite, obviamente sem descurar a produção nacional - que infelizmente não pode ser representada pela minha predilecta, a inesquecível Daili-dou, papagaio voa, cometida pelos Gemini. Fica a capa, e a informação de que o idiota de cima é o Tozé Brito e que as duas meninas viriam depois a integrar as Doce, com quem uns anos depois regressariam ao palco dos palcos com a igualmente marcante Bem Bom, que inauguraria o disco-malhão - género que desgraçadamente não viria a pegar, apesar dos esforços de Tonicha e de Marco Paulo.
Mas a estrela desta selecção é sem dúvida a inacreditável Dschingis Khan, depois da qual nada foi igual no Europop, e que como veréis trouxe à Eurovisão o Imperador Ming em pessoa - pessoa, ou lá o que é aquilo. Numa das maiores injustiças de que há memória ficaria apenas em 4º lugar, atrás de coisas como a insuportável pepineira vencedora Hallellujah (que mais tarde seria cantada pelo próprio António Sala) ou a espanhola Betty Missiego e as suas crianças. A única que chega aos calcanhares desta trupe teutónica é a vencedora do ano anterior: a eterna Abanibi (que na versão portuguesa se cantava "abanáqui qui faz calô").
Boas férias!
1 comentário:
Que saudades dos bons velhos tempos dos Jogos sem Fronteiras e dos verdadeiros Festivais da Eurovisão, em que estávamos sempre a procurar fugir aos últimos lugares! Já não há programas como dantes. E sim, confesso que também os via... Isso deve explicar alguma da (muita) falta de sanidade mental...
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