25 julho 2006

Caixa de Clips 008 - Bow Wow Wow / Chihuahua (1981)

Malcolm McLaren, o grande ladrão que inventou os Sex Pistols e o punk inglês depois de ver um concerto de Tom Verlaine e de Richard Hell em NY, fez mais algumas coisas amáveis antes de tentar uma patética carreira a solo. Uma delas foi pegar nos restos da banda de Adam Ant e juntar-lhes Annabella Lwyn, uma rapariguinha de 14 anos com corpinho de 18 e à-vontade de 23, de tal forma que até aparecia nua na capa do primeiro disco da banda (embora, valha a verdade, pudicamente nua) numa recriação do "Déjeuner sur l'herbe" de Manet. Queréis ver? Então está bem:


Os Bow Wow Wow assentavam numa secção rítmica poderosíssima, com um baixo frenético sobre tambores que se diria tocados por um antepassado de Kunta Kinte (lembram-se dele, brigada dos trintões?). Por cima disto tudo a voz inocente de Annabella, que sem avisar passa de um registo sussurrante para um delírio de berros e impropérios. Tal como outras bandas inglesas desta fornada de 80/81, os BWW foram buscar inspiração aos trópicos. Mas contrariamente à maioria (Kid Creole, UB40, Specials e toda a seita Ska) não alinharam em ritmos caribenhos; foram directamente à fonte e aos ritmos mais tribais da África negra. Tal como faziam os A Certain Ratio (calma, eles hão-de chegar), e como do outro lado do grande mar oceano faziam os Talking Heads no fantástico Remain in light. Se até os Echo and the Bunnymen chegaram a tocar com os Royal Drummers of Burundi...

Apesar do sucesso que lhes foi augurado, a carreira não foi muito longa. Separaram-se em 1983, com apenas três álbuns gravados. Annabella encontrou entretanto uma vocação budista (?!?!?!?!?), segundo informa o seu franciscanamente pobre site. Há 25 anos ninguém diria, ao ouvi-la gritar "I'm a rock'n roll puppet in a band called Bow Wow Wow!" enquanto puxava o seu guitarrista pela trela e o açoitava com o cinto. Mas as vocações não escolhem idade - que o diga S. Paulo, que ao que consta também gostava de dar as suas chicotadas antes de apanhar a tal estrada de Damasco.

Miguel Esteves Cardoso escrevia em Dezembro de 80 sobre os BWW: "Esta é a música comercial pop do futuro: efusiva, sem tréguas, apaixonada e imediata". E repetia em Abril seguinte, sempre no Se7e: "não é preciso uma bola de cristal para prever o futuro da música Pop - basta uma cassetre dos Bow wow wow e saber conjugar o verbo Bauauar" (tudo isto compilado, claro está, na sua "Escrítica pop"). Infelizmente o futuro não foi assim tão risonho para a Bella Anna (como lhe chamaria alguém que eu cá sei). Mas felizmente deixaram-nos músicas como este Chihuahua. Enjoy!


6 comentários:

eduardo disse...

o MEC e as suas previsões não bateram lá muito certo.
Convém acrescentar o toque Bo Diddley em algumas faixas, em especial o "I Want Candy".

Joe disse...

benvindo ao cumbíbio, cap. Edu. que tal estava a água do mar?

Ricardo Salazar disse...

kunta kinte era filho de kunta karto e kunta kem?

Joe disse...

kunta kinte era filho de kunta quarte e de ganda kenga. foi apanhado por traficantes de escravos e levado para o novo mundo, onde passou a chamar-se toy. mas atenção, não estou a falar do teu sósia cantor. era o personagem principal do "raízes".

Ricardo Nascimento disse...

Apesar da piada do sósia do Toy resultar mt bem, assim como a do anão da ilha da fantasia - o Kunta Kinte, primeiro filho de Omoro e Binta, neto de Kairaba Kunta Kinte, passou a chamar-se Tobby

Joe disse...

Curvo-me respeitosamente perante tanta sapiência, shotôr, e peço desculpas ao neto de Kairaba, quem sabe antepassado do Prof. Karamba.