O disco de estreia dos Fountains of Wayne é uma daquelas pérolas que cresce com o passar do tempo. Quando o comprei achei-o um disco simpático, agradável, mas que provavelmente não resistiria ao passar dos anos e acabaria esquecido numa prateleira. A verdade é que de cada vez que o ponho a tocar me comovo com as pequenas histórias que conta ou que sugere, vinhetas do pequeno quotidiano da classe média americana com um fundo musical que lembra uma actualização dos grupos de baile dos anos 60. Imaginamos este quarteto novaiorquino, quais Shadows, a tocar nos míticos proms onde adolescentes apaixonados dançam um slow. Imaginamos um casal a comer um gelado em frente à montanha russa de Coney Island, secretárias solteiras a irem sozinhas a matinées de cinema, vendedores de enciclopédias a percorrerem o país no seu chevvy, namorados que chegam a vias de facto no enorme banco traseiro do carro do pai. Não que sejam necessariamente esses os temas de cada uma das 12 impecáveis canções do disco. Nem todas são, mas não é isso o que importa - porque até podiam ser. O que torna este disco intemporal aos meus ouvidos é conseguir capturar o imaginário que nós, europeus, formámos dos americanos graças ao cinema, à TV e à literatura. E pouco interessa também, para este efeito, saber se corresponde ou não à verdade; se corresponder é património deles, senão é património nosso.
Não se pode dizer que este álbum tenha sido completamente ignorado pelo público e pela crítica. Chegou a nº 20 nos EUA, e o single Radiation Vibe (podem clicar para ver o clip) a nº 14. Mas há muito mais do que esse excelente single (que de resto até nem é muito representativo da onda geral do álbum). Canções como Survival car, She's got a problem, Barbara H., Sick day ou I've got a flair mereciam ser ouvidas e cantadas por muito mais gente. O sucesso chegaria em maior escala com o 3º álbum, Welcome interstate managers, que chegou a nº 1. O single Stacy's mom (que conta a triste saga de um adolescente apaixonado pela mãe de uma colega) é provavelmente a canção mais conhecida da banda e o seu maior sucesso comercial. No entanto, tanto este disco como o anterior Utopia Parkway não conseguem, nem de perto (no entender deste vosso amigo), ser tão consistentes como o disco de estreia - quase fazendo, aqui e acolá, lembrar os (bllaaaaaaaargggh!!) Oasis. Daí que eleja esta primeira obra como a obra prima destes quatro aspirantes a nerds. Acresce que os rapazes tiveram a simpatia, para não dizer o extremo bom gosto, de chamar Joe Rey a uma das suas malhas. E dizem sobre esse personagem, "he's cool, cool, cooler than I am". Não é lindo? Digam lá, é possível não gostar de um disco assim?
Há pouco tempo li, creio que num número da Rockdelux, que os Nada Surf de hoje em dia soam como uma espécie de FOW com trinta e muitos anos. É uma boa maneira de pôr as coisas (até pela semelhança de tom de voz entre Chris Collingwood e Matthew Caws). Mas só a verão se ouvirem este álbum, the real deal. Descubram-no, então.
2 comentários:
é neste que está o "denise"?
este tipos sempre foram muito new wave, em especial Cars e Devo.
um dos elementos toca nos Ivy, uma boa banda pop levezinha.
O denise está no 2º, o utopia parkway. realmente, a partir daí começaram a piscar um bocado o olho a essa onda new-wave, mais cars que devo, mas misturando com umasd gitarras wha-wha e uma voz à noel galagher (ou o liam?... o gajo que canta) que caem mal.
este é muito mais retro, verdadeira pop vintage.
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