Foi na cruz, foi na cruz que um dia
meus pecados castigados em Jesus,
foi na cruz que um dia, foi na cruz
Este é provavelmente um dos álbuns mais mal-amados do cavalheiro Nicholas Edward Cave. A passagem da violência gore do antigo testamento (referência recorrente em todos os álbuns desde a formação dos Bad Seeds, ou não fossem os blues a sua influência primordial) para a mensagem comparativamente insossa do novo não era exactamente o que as hordas de góticos, punks e afins estavam à espera. Para mais, com este álbum NC conseguiu fazer o crossover para outros públicos, e atingir números de vendas interessantes - afinal saíram daqui The weeping song e The ship song, provavelmente duas das suas canções mais conhecidas (e que francamente já não há pachorra para ouvir em concerto de cada vez que ele cá vem, como acontece com a grandiosa The mercy seat; o que é demais é moléstia, diz sabiamente o povo). E sair do nicho estritamente alternativo tem os seus custos em termos de credibilidade crítica.
Esta canção com o refrão cantado em português (na altura o rapaz morava em S. Paulo, e era casado com uma brazuca) contribuiu, com toda a certeza, para o crescimento do enorme culto que NC passou a ter em Portugal mais ou menos a partir desta altura, com Coliseus esgotadíssimos de cada vez que se digna visitar-nos. Não conheço bem a história, mas o refrão é roubado a uma melodia religiosa tradicional brasileira. Quem a conhecer e vir o filme Pixote não pode deixar de reparar numa cena em que a canção é cantada numa espécie de vigília. E que Cave conhecia bem o filme, disso não há dúvidas: o seu álbum anterior, o sobre-excelente Tender Prey, é dedicado ao actor principal (que entretanto já tinha sido morto pela polícia).
Seja como fôr, é uma bela canção para a sexta-feira de Páscoa. E a C-70, por ateia que se orgulhe de ser, gosta de trazer a canção certa para o dia certo.
(... e a brincar a brincar, qualquer dia é Pentecostes!)
1 comentário:
Para quem é ateu...
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