Quando saiu, Too many days... foi vilipendiado pelos admiradores mais puristas desta banda de S. Francisco como uma pequena traição ao espírito dos álbuns anteriores, ...Well? e 41. O som demasiado polido, a produção demasiado próxima da do banal indie rock e o facto de terem sido despedidos pela American, a editora do guru Rick Rubin (na altura em pleno milagre da resurreição de Johnny Cash) levaram a que muitos incondicionais torcessem o nariz a este disco, que soava como uma espécie de Nirvana em versão lo-fi meets Red House Paiters. Nada mais injusto: Too many days... é não só o melhor disco que os Sweel nos deixaram, é a lápide definitiva do grunge.
Não quer isto dizer, bem entendido, que os Swell tenham um cabelo que seja a ver com bandas como os Soungarden, os Alice in Chains, e ainda muito menos com dejectos como os STP ou os Pearl Jam. Nada disso. Os Swell vieram precisamente tornar claro que esse tempo tinha terminado e que era preciso voltar a olhar para o rock não enquanto repositório das amarguras juvenis gritadas por rapazes altos e bonitos, embora drogaditos e decadentes (Kurt, Eddie, Chris, Scott...), mas como uma forma de expressão musical e artística em que os sentimentos estão à flor da pele sem terem necessariamente que ser gritados por vozes desesperadas e sublinhados por um excesso de decibéis de guitarras e bateria. O rock podia voltar a ser rock, menos histriónico do que na meia dúzia de anos anteriores e centrando-se mais na escrita de boas canções do que no hiper-rentável circo Lollapalooza em que a música supostamente alternativa se tinha grotescamente transformado.
Too many days... é um disco em que não há uma canção fraca, havendo naturalmente 3 ou 4 que sobressaem: At Lennie's, (I know) the trip, What I always wanted ou a belíssima Sunshine everyday (uma espécie de irmã boa e gentil da Stormy weather dos Pixies) são coisas que ninguém que se preze desdenharia ter escrito, e que os Swell provavelmente nunca igualaram nos álbuns posteriores. Mas, muito mais do que ter boas canções, este é um disco em que as coisas parecem fazer sentido do princípio ao fim, em que uma espécie de fio invisível nos leva de uma ponta à outra sem que nada pareça ou apareça fora do sítio. E é isso que distingue um bom disco de um disco memorável.
Vi os Swell por duas vezes. A primeira foi na digressão deste álbum, algures em 97 e numa das salas onde vi mais e melhores concertos - o Garage, em Londres (qualquer dia hei-de escrever um post sobre este sítio, infelizmente fechado para obras há tempo suficiente para eu suspeitar que teha fechado de vez). A segunda foi em 98 ou 99 no agora também moribundo Hard Club, na digressão de For all the beautiful people. De ambas as vezes não estariam mais do que umas 200 pessoas para ver uma das melhores coisas que o rock tinha para oferecer à data, o que não deixa de ser chocante (sobretudo em Londres, onde devem viver à volta de uns 10 milhões de almas). Não sendo em palco uma banda extraordinária, a impressão que mais me marcou foi a de uns tipos despretensiosos que não se importam de conversar um bocado com os fãs enquanto eles próprios carregam a carrinha para o espectáculo do dia seguinte, e em que um dos membros até deixou o e-mail para mais tarde lhe escrevermos a saber se nos conseguia arranjar umas cópias do 1º disco.
Em 97 estava certo que este álbum seria um grande sucesso comercial, porque tinha tudo para agradar quer aos órfãos do grunge (agora uns anos mais adultos e maduros) quer aos adolescentes à procura de algo de novo no mundo indie. Não foi, talvez por falta de marketing, talvez porque de facto não era disto que o povo estava à espera. Pior do que isso, dei-me conta há bocado, ouvindo-o enquanto arrumava a cozinha, que é hoje um disco infeliz e injustamente esquecido; ele que deveria estar nas prateleiras de toda a gente que em 97 tinha entre os 16 e os 30 anos. Se não o conhecem, descubram-no.
Em 97 estava certo que este álbum seria um grande sucesso comercial, porque tinha tudo para agradar quer aos órfãos do grunge (agora uns anos mais adultos e maduros) quer aos adolescentes à procura de algo de novo no mundo indie. Não foi, talvez por falta de marketing, talvez porque de facto não era disto que o povo estava à espera. Pior do que isso, dei-me conta há bocado, ouvindo-o enquanto arrumava a cozinha, que é hoje um disco infeliz e injustamente esquecido; ele que deveria estar nas prateleiras de toda a gente que em 97 tinha entre os 16 e os 30 anos. Se não o conhecem, descubram-no.
6 comentários:
sweel = morte de sala de espetaculo
swell = falta de bom gosto
well = mar flat
ell = erro ortografico de el vez
que giro...
a primeira vez que eu falei com esse tal de sr. Ricardo Salazar...foi por causa deste disco!!!
(e ele não tinha...prá troca!!!)
por causa disso ainda passaram uns anos até nos encontrarmos ótravez.
Joe, nem eu diria melhor. Estou sempre a adiar um post sobre este disco esplêncido. Quero fazê-lo em breve, mas não conseguirei descrevê-lo tão bem.
Tembém estive no concerto do Hard Club (por 1000 paus!), onde meia dúzia de almas valeram por milhares.
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