Discos Perdidos são aqueles que, por razões que a razão desconhece, eu acho muito melhores, mais importantes ou mais marcantes do que as outras pessoas com quem costumo falar sobre discos. Não são causas perdidas, são as vossas oportunidades perdidas de encontrar um bom amigo.
Drugstore
Drugstore
"Drugstore" (1995, Go! Discs)
As recordações de Londres, que já deram origem ao post anterior, fizeram-me hoje voltar a ouvir um disco que foi um dos meus power-play pessoais nos idos de 95-96. Falo do álbum de estreia de um trio inglês, liderado por uma brasileira chamada Isabel Monteiro que apesar de um aspecto mignon e voz por vezes quase inexistente (são dela os sussurros em My sister, do 2º álbum dos Tindersticks) tem mais garra do que muitos hard-rockers musculados.
Ouvi-os pela primeira vez na tristemente defunta XFM. Vinha de carro e passaram no Grande Delta (o programa da tarde apresentado pelo António Sérgio) uma música que me deixou verdadeiramente abananado. Consegui perceber de quem era, e antes de o sol se pôr já tinha passado na também defunta Tubitek (onde este senhor dava bons conselhos e fazia uns descontos porreiros) e entrado na posse de um disco fora de série.
O som dos Drugstore é muitas vezes definido como uma espécie de cruzamento entre os Jesus & Mary Chain, os Mazzy Star e os Velvet Underground . Talvez seja verdade, mas em nenhuma destas referências encontramos a pedra de toque deste disco: a sensação de leveza que têm estas 14 canções, que parecem como que inacabadas. A sensação de que fica muita coisa por dizer e por cantar, que a nossa imaginação se deve encarregar de preencher, que as torna tão especiais e nos faz ouvi-las até à exaustão. Isso, e o facto de a maioria dos temas fugir ao formato tradicional verso/ refrão/ verso/ refrão/ interlúdio/ refrão, sem no entanto tentar parecer outra coisa que não canções pop-rock. Canções como Alive, Starcrossed, Gravity, Solitary party groover ou a superlativa Fader (a tal que ouvi na XFM) como que planam sobre guitarras saturadas por distorção e a voz ora sussurrada, ora gritada de Isabel, umas vezes num registo quase etéreo, outras em dinâmicas start/stop, mas são despretensiosas canções pop e não querem ser mais do que isso.
Pude vê-los várias vezes em concertos ao vivo, em Londres e por cá, onde a pequena Isabel se assume como um verdadeiro animal de palco. E encontrei-a uma vez no metro, ocasião em que depois de superar a vergonha fui cumprimentá-la e dizer-lhe como gostava deles. Ficou genuinamente surpreendida por ser reconhecida ("What, you know ME??!!), e teve a simpatia de me pôr na lista de convidados de um concerto que iam dar na semana seguinte. E ainda me deu um autógrafo, com desenho e dedicatória. Um amor de moça!
O disco seguinte (White magic for lovers, de 98) sofre (como tantos segundos álbuns...) de excesso de produção, não conseguindo recriar a aura do primeiro. É no entanto um excelente álbum pop, que deu à banda o seu maior êxito: El president, uma homenagem a Salvador Allende em forma de dueto de Isabel com Thom Yorke (recorde-se que os Radiohead eram à época uma das bandas mais consideradas pelo público e pela crítica de todo o mundo). O terceiro álbum (Songs for the jet-set, de 2001) foi uma desilusão. Desde então quase nada se sabe sobre projectos futuros da banda. A falta de um site oficial também não ajuda.
Nada pode, todavia, diminuir este disco fantástico, para o qual já arrebanhei uma pequena mas devota legião de fãs mas que merece ser conhecido e amado por muitos mais. Descubram-no vocês também.
1 comentário:
ok.... concordo plenamente com todas as suas sensações... a minha dúvida sobre a não divulgação desse album será eterna... mas por favor... como faço para ter acesso a ele? me conta?
clauvalois@gmail.com
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