30 março 2007

Peel slowly and see... 40 years now!

2007 é um ano de efemérides. Já vos falei dos 60 anos do grande Camaleão, mas há mais gente e, sobretudo, muitos discos que fazem aniversários redondos neste ano da graça de NSJC.
Algures em Março de 1967 (a maior parte das fontes fala do dia 12, algumas do dia 15) foi editado nos EUA um disco que 40 anos depois seria considerado por muita e muito boa gente como o melhor, mais importante e mais influente disco da história do Rock. O disco com uma das capas mais carismáticas jamais editadas, ainda que já sem a banana rosa por baixo do autocolante (parece que a edição de vinil japonesa ainda continua a ser assim; alguém vai ao Japão?). O tal disco do qual se diria (a frase é atribuída a Brian Eno) que "poucos foram os que o compraram, mas todos formaram uma banda". Lamento contrariar o autor, mas conheço pelo menos uma excepção. E até já comprei uns 4 ou 5 exemplares.
Abre com uma caixa de música e uma melodia simples como as de qualquer caixa de música. Uma nota de John Cale abre as portas à voz sussurrada de Lou Reed, que nos fala, como ele explica num disco ao vivo, de uma daquelas manhãs depois de uma noite em que tudo correu mal. Mas não faz mal, porque há sempre alguém que nos vai chamar.
Segue-se um número de perfeito e (aparentemente) convencional good old-fashioned rock'n roll. Piano, guitarra e bateria. Lou Reed conta-nos, com basta e incontestada experiência de causa, como é que se compra droga na baixa de NY. É preciso esperar pelo homem, que vem sempre atrasado. Mas faz-nos sentir muito bem, pelo menos até ao dia seguinte.
Entra Nico, o ícone, e fala-nos de si. Diz para termos cuidado, porque toda a gente sabe o que ele faz para agradar. Vindo de quem assim canta, nem por um segundo duvidamos. You're written in her book, indeed.
E se alguém tinha pedido um violino estridente, uma batida hipnótica e um poema sobre S/M, aqui vêm eles. A partir do livro de Sacher-Masoch, Reed fala-nos de submissão, botas de couro, cintos, chicotes, abandono. Taste the whip, in love not given lightly, taste the whip now bleed for me. Não é exactamente um modelo de subtileza.
Voltamos ao rock e às drogas, agora de forma menos ligeira. Alguém tenta fugir da morte e não vai conseguir. A Teenage Mary que vendeu a alma, a Margarita Pasion que estava a ressacar, a Seasick Sarah e o seu nariz dourado, o Beardless Harry que achava que não lhe aconteceria a ele. Todos fugiram, fugiram, fugiram, em vão.
Mais uma incursão na mundanidade, a lembrar que esta era a banda de Andy Warhol e da Factory, a banda de gente que fazia parte da beautiful people do underground novaiorquino. E que se ri de quem não é cool como eles. De quem não usa cabedais e óculos de sol blasé. De quem se preocupa com a roupa que vai vestir na próxima festa, mais do que com se divertir na festa, engatar uma miúda, ou um miúdo, ou uma miúda e um miúdo, arranjar drogas. De quem vai chorar para trás da porta. De qualquer anti-Cinderella.
O lado B abre com a canção mais forte do disco, e uma das mais marcantes (provavelmente A mais marcante) da carreira da banda. Que fala de drogas (surprise!), de todas as drogas, apesar de o título ser bastante preciso. Das drogas que nos fazem querer ter nascido há mil anos e sermos marinheiros, antes o escorbuto do que o cavalo, que nos faz sentir os filhos de Deus mas vai ser a nossa morte. When the heroin is in my blood, and that blood is in my head, then thank God that I'm as good as dead, then thank your God that I'm not aware, and thank God that I just don't care, and I guess I just don't know. Mai' nada.
Segue-se, estranhamente, canção mais light do disco. Pelo menos musicalmente, esta história da rapariga que está de joelhos e não chora nem pede licença, é a única peça verdadeiramente descontraída do alinhamento. Quem é ela? Uma prostituta ou uma mulher em quem o marido bate? Seja quem for, sabemos que vai voar como um passarinho, e isso já é qualquer coisa.
Da heroína ao amor é um pequeno salto. Afinal, é tudo uma questão de dependências. E sermos o espelho de alguém, reflectirmos o que ele/ela é, sermos o vento, a chuva e o por-do-sol, a luz da entrada que lhe mostra que chegou a casa, é uma dependência. Não como outra qualquer, mas uma dependência.
O disco termina com as duas faixas mais marcadamente experimentais, que prenunciam o caos que chegaria no ano seguinte com White light/White heat. Na primeira, o anjo da morte convida-nos a escolher entre tudo o que não vale a pena, para nos fazer ver que nada vale a pena e que a melhor escolha é partir. Choose to go. Na segunda, dedicada ao seu professor preferido (o poeta Delmore Schwartz), Reed faz uma (então) rara incursão na poesia mais social ou política (forma em que atingiria a quase perfeição mais de 20 anos depois, no colossal New York). O curto texto fala, muito vagamente, do desencanto com uma América conservadora e obcecada com o sucesso. Mas em que, de repente, nos podem levar o nosso belo carro azul e as paredes verdes, you'd better say so long, hey hey, bye bye bye... Uma América (já) sem as referências humanistas dos pais, aqui transformados em filhos pela soberba de quem descobriu que dinheiro e arsenal são poder.

Apesar da indicação da capa, é hoje mais do que sabido que Andy Warhol pouco ou nada teve a ver com a produção do disco. O trabalho foi fundamentalmente da própria banda, não sendo muito certo o verdadeiro papel que coube a Tom Wilson, creditado apenas com a produção de Sunday Morning. E muito do fascínio e do poder de atracção que este disco exerce sobre quem se cruzar com ele vem exactamente da sub-produção, que nos deixa perceber a qualidade das canções e a forma apaixonada de quem as toca e canta - ainda que nem sempre de forma tecnicamente irrepreensível. Por isso é que convenceu gerações a fio, em 40 anos, que também podem escrever, tocar e cantar canções de rock.
O maior disco de todos os tempos? É possível, ou mesmo provável. Sem este, o disco da minha vida não seria o mesmo, nem por sombras. Mas desse hei-de falar em Junho, quando fizer 35 anos.
Dois docinhos para terminar. Espero que gostem.




28 março 2007

Assobiar às suecas faz comichão nas cuecas (provérbio lapão)

Encerra-se aqui esta pequena homenagem da C70 às músicas com assobio. Muitas ficaram de fora: lembrou a sempre atenta Verde o inesquecível tema do Verão Azul, e o inefável Q o Big Sur dos Thrills. Poder-se-ia acrescentar à lista, para fugir a cenas mais azeiteiras, o Sissyneck do Sr. Hansen, o Lovely Head dos Goldfrapp, o incomparável Otis na doca da baía ou as Confessions dos Violent Femmes. E o tema do The good, the bad and the ugly, claro.
Para terminar em beleza, uma das graaaaaaaaaaandes canções de 2007. E quem não assobia é lampião, olé.


23 março 2007

O assobio e o apito já vêm do antigo Egipto (provérbio sumério)

Quem assobia não bate na tia (provérbio transmontano)

Desde há uns dias que ando a tentar lembrar-me de canções que tenham belos momentos assobiados. E ao contrário do que possa parecer, não são assim tantas como isso. A C-70 vai empenhar-se em trazer para a ribalta esta importante, muito embora descurada, faceta da pop. E nada melhor do que começar com um clássico, daqueles mesmo clássicos.
Tudo a assobiar com a Eliza.

20 março 2007

Quote of the day - Dinosaur Jr. / Feel the pain

I feel the pain of everyone
and then I feel nothing


Estou com uma &%#$ duma dor de dentes que nem vejo. Sem exagero, dói mais que os golos do Tello e o do Petit juntos.

16 março 2007

dois - anos - dois

Chiça... Esta chafarica já abriu há dois anos!

14 março 2007

A hora do slow

No fim de semana, e a propósito de uma escolha musical feita pela função shuffle do leitor MP3, eu e a menina Inês tivemos uma breve troca de impressões sobre os melhores slows dos anos 80. Ora isto levanta uma interessante questão, daquelas a que os juristas gostam de chamar prejudiciais: o que deve ser considerado slow para este efeito? É que não é tão fácil como parece… Detenhamo-nos por breves momentos e tentemos precisar o conceito.
Um slow, antes de tudo o mais, tem de ser uma canção de amor lamechas. Não basta ter um tempo lento, propiciando o arrastamento de pés; a temática deve também ser propícia ao arrastamento de mãos e ao esfreganço geral. Não passa pela cabeça de ninguém chamar slow a coisas como o Fade to grey ou o Tokyo song.
Depois, um slow tem que ser uma coisa simples, que entre bem no ouvido e que tenha uma mensagem clara, tipo “me tarzan, you jane”. Slows com muita poesia distraem do essencial; e com uma música complicada perturbam o piloto automático. Um slow tem que ser 100% pop, sem grandes pretensões artísticas. Sejamos claros: é um tipo de canção com uma função específica, e essa função não é fazer-nos pensar no sentido da vida.
Mais do que isso: tem que ser, no mínimo, ligeiramente azeiteiro. Coisas como o I know it's over, o Killing Moon ou o Are you ready to be heartbroken não servem, são demasiado boas. Mas há, evidentemente, casos de fronteira – por exemplo, o Souvenir deve ou não ser admitido a concurso? Inclino-me para o não, embora com dúvidas.
Finalmente, só é um slow a sério uma canção que toda a gente conheça. Nada de faixas escondidas ou de lados-B desconhecidos. Tem que ser como a pasta medicinal Couto e andar na boca de toda a gente. Tem que ser um single, e de sucesso. Daqueles que agora pode passar nos programas da noite da RFM ou no Rádio Clube Português.

Posto isto, aqui vai o top-10 que de momento me ocorre. E desde já aviso que vai ter muitas falhas, porque não estive a pensar nisto muito tempo.
E não se esqueçam: eu avisei que são cenas muito azeiteiras.

10 – Spandau Ballet / True
09 – Imagination / Body talk
08 – Berlin / Take my breath away
07 – Madonna /Crazy for you
06 – Bryan Ferry / Slave to love
05 – Cars / Drive
04 – Duran Duran / Save a prayer
03 – George Michael / Careless whispers
02 – Prince / Purple rain

E em número 1…


Um regalo para os ouvidos. E porque não dizê-lo, em algumas passagens também para a vista.

PS - E o prémio para o pior slow? A concorrência seria brutal, mas deixo cinco candidatos, todos eles infames ocupantes durante semanas a fio do nº 1 do Top Disco:

Jim Diamond / I should have known better
Century / Lover why
Scorpions / Still lovin’ you
Foreigner / I want to know what love is
Chris de Burgh / The lady in red

08 março 2007

Sim, Sr. Ministro

Gilberto Gil e Os Mutantes, com a Rita Lee lá pelo meio. Há 40 anos.
Com aquela pêra até parece um guarda-redes que deu um frango jeitoso num jogo da Liga dos Campeões desta semana. E feriu Zé, feriu Zé.

06 março 2007

Quote of the day - Nico / Chelsea girls

Here's Room 115, filled with S & M queens
Magic marker row, you wonder just high they go.
Here they come now
See them run now
Here they come now
Chelsea Girls

'Bora papá-las!